Leia o artigo: Psicologia enquanto profissão


24/08/2016


Por João Renato C. Pagnano A Psicologia enquanto profissão foi reconhecida no Brasil em 27 de agosto de 1962, há apenas 54 anos. Ainda mais recentemente, em 20 de dezembro de 1971, foram criados: o Conselho Federal de Psicologia (CFP) e seus Conselhos Regionais (CRs), para garantir o exercício de qualidade teórico-técnica e ética da psicologia na sociedade em que iremos atuar como psicólogas (os). Os Conselhos são elementos de mediação entre a categoria profissional (suas possibilidades) e a sociedade (suas necessidades). Para além de orientar e fiscalizar o exercício da Psicologia o Conselho visa também contribuir para formular ações que garantam a defesa dos direitos humanos, em suas mais distintas variáveis, pretendendo também produzir conhecimentos comprometidos com a construção de uma sociedade mais democrática e inclusiva. O Conselho de Psicologia é o único, dentre todos outros conselhos das demais profissões, que tem este compromisso social evidente em sua atuação e por esta característica singular podemos sugerir o que faz parte do trabalho da Psicologia. Há um conjunto importante de críticas à Psicologia enquanto ciência e também enquanto profissão. As críticas feitas à ciência moderna também se aplicam à Psicologia, já que ela se alinha com as práticas metodológicas dessa forma de produção de conhecimento e realidade social. O grande problema está no processo de objetificação que as ciências em geral infligem ao ser humano, fazendo dele um objeto sobre o qual se pode estudar, categorizar, intervir, modelar, formatar, docilizar, disciplinar, controlar, adaptar e normalizar. E na medida em que é objetalizado, o ser humano perde sua própria medida, sua condição de ser psicossocial, desejante e protagonista de sua história. Infelizmente as(os) psicólogas(os) não exercem a função de trabalhadoras(es) sociais, são produzidos para atuar predominantemente como "técnicos da conduta" ou como "ortopedistas do comportamento". O sentido de sua ação, os efeitos de suas intervenções são orientados pelos processos de normalização social, tal como mapeados por Foucault nos livros "O nascimento da Clínica" (2004) e "Vigiar e Punir" (1999). Importante ressaltar ainda que a Psicologia, como ciência disciplinar, tem um papel social específico no Modelo Capitalista de Produção, ou seja, ela funciona como uma prática social que vai ao encontro de um ideal social que acaba confundindo e considerando saúde mental apenas quando há nos indivíduos uma condição de inserção na produção e consumo de mercadorias. É partindo da Psicanálise, do campo de Freud e Lacan, que meu trabalho encontra outra via para a Psicologia, que possibilitaria a superação desses efeitos sociais disciplinares, normalizadores e alienantes. Ressaltando, portanto, a necessidade da construção de uma outra prática social para o profissional psicólogo, agora no sentido da produção de saúde e subjetividade singularizada, e somente se, promovida pela via da protagonização do sujeito. Uma Psicologia precavida pela teoria, pela técnica e pela ética. Isso pode ser potencializado também com as lições do Materialismo Histórico (Marx e Foucault), da Análise Institucional (Lourau e Lapassade) e da Esquizoanálise (Deleuze e Guattari), compondo os referenciais teórico-técnicos e éticos mínimos para a caracterização e a atuação na atenção aos sofrimentos psíquicos nas diversas dimensões do ser humano: biológica, psíquica, social, política, econômica, espiritual e cultural. Buscando superar técnicas patologizantes, normalizadoras e alienantes, que predominam em abordagens médicas, psiquiátricas e também psicológicas, quando o profissional desconhece os atravessamentos sociais de sua atuação, principalmente de ordem capitalista de produção. O que é então que o profissional está fazendo quando atua enquanto psicólogo? Primeiramente como descrevi na atuação do Conselho de Psicologia enquanto psicólogas(os) somos trabalhadoras(es) sociais, mesmo atuando apenas no consultório. Buscamos fazer uma clínica da escuta do significante, ofertando uma possibilidade de transferência, deixando o outro falar, permitindo-lhe começar a produzir um outro saber, para além do seu lugar daquele que sofre passivamente. Não se trata de dizer ao outro o que ele tem, uma posição de mestria, pois o saber necessário não se ensina, é unicamente produzido pelo sujeito implicado em sua questão. Podemos arriscar dizer, sem querer fechar, muito mais como uma provocação, que a(o) psicóloga(o) poderia situar-se adequadamente na escuta, no trabalho clínico e social, buscando promover processos de subjetivação e de singularização que permitam o equacionamento tanto de impasses psíquicos quanto das emergências relacionadas com as transformações pessoais e sociais, e diante desta atuação, dentro dos limites que temos como profissionais e seres humanos já estaríamos contribuindo significativamente para um possível mundo melhor. Por João Renato C. Pagnano Docente do curso de Psicologia da faculdade Unifadra/Fundec


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