Setembro Amarelo

Por Cláudia Regina Parra
04/10/2019


Chegamos ao fim do Setembro Amarelo. Infelizmente esse  tema foi inserido em nosso calendário dada a necessidade de se falar sobre o assunto.
No Brasil, o número de suicídios vem aumentando significativamente, principalmente entre jovens e adultos jovens. Nós somos o oitavo país com mais suicídios no mundo em números absolutos (foram 11.821 entre 2010 e 2012). E pior: estima-se que, para cada pessoa que comete suicídio, existem pelo menos outras 20 que tentaram, mas não conseguiram consumar o ato.
Aparentemente foi o mês em que mais ouvimos falar de pessoas que ceifaram suas vidas. Em termos mundiais, o crescimento do risco de suicídio aumenta com a idade, embora mais recentemente perceba-se um aumento significativo dos índices nos jovens com idades entre 15 e 34 anos. Um maior número de pessoas comete suicídio anualmente do que as que morrem em todos os conflitos mundiais combinados.
É importante pensarmos que recursos estão disponíveis para que esta ideia seja superada e não se transforme em um fato tão marcante, tão destruidor para a família.
Uma pergunta que se faz aos profissionais da saúde mental é: por que as pessoas se suicidam?
Primeiramente, necessitamos distinguir os vários níveis de comportamentos suicidas, desde a ideação suicida, em que a pessoa começa a contemplar o suicídio como uma solução viável para os seus problemas, até propriamente a tentativa de suicídio e o suicídio consumado. Neste espaço será abordado um recorte do assunto trazendo à tona o pensamento suicida.
A resposta mais simples para esta pergunta é porque não tem mais esperança. Não necessariamente as pessoas que comentem suicídio querem acabar com sua vida, elas querem acabar com sua dor, uma dor tão grande que não vêem possibilidade de vencer aquela dificuldade.
Aproximadamente uma em cada seis pessoas que cometem suicídio deixam um bilhete que, no geral, retrata as razões para essa atitude. Os comportamentos suicidas geralmente resultam da interação de vários fatores, o mais comum é a depressão, mas não é o único. Existem outros fatores relacionados, como uso de drogas, transtornos psíquicos, traumas ocorridos na infância, entre outros.
Aron Beck, psiquiatra americano, diz que na ideação suicida os três fatores  inseridos na tríade cognitiva EU-FUTURO-AMBIENTE ficam fragilizados. Comportamentos suicidas podem apresentar-se disfarçadamente: decisões súbitas de, por exemplo, preparar um testamento; afirmações que denotam desesperança, como “minha vida não vai melhorar”; ideias de que os demais estariam melhor com minha morte, como “sou um peso para todos”; ideias de fracasso em satisfazer as expectativas de outros, como “desapontei a todos”, etc. A desesperança tem se demonstrado, segundo os estudos, como um fator de risco crônico e agudo, para essas pessoas. Sugere um esquema relativamente estável, em que a dimensão da tríade cognitiva implicada é o “futuro”. Ainda que a maioria das tentativas de suicídio ou suicídios consumados seja um choque para parentes e os amigos, muitas pessoas dão claras advertências, é preciso ficar alerta, pois essa pessoa está sinalizando seu DÉFICIT NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS. Finalmente, suicidas demonstram uma reduzida tolerância à ansiedade, inerente ao processo de resolução de problemas e ao tempo de latência entre a identificação de um problema e a sua resolução, portanto, qualquer ameaça ou tentativa de suicídio deve ser levada a sério. Se for ignorada, uma vida pode ser perdida.
O entorno da pessoa que comete suicídio sofre muito também, pois o ato traz sempre um efeito emocional marcante em todos os envolvidos. Parentes, amigos, profissionais da saúde, religiosos, podem se sentir culpados, envergonhados, com raiva e com remorso por não terem conseguido evitar o suicídio. Com o tempo, eles perceberão que não poderiam ter evitado o suicídio. Às vezes, um conselheiro ou um grupo de autoajuda podem ajudar a família e os amigos a lidar com os sentimentos de culpa e de tristeza.
Enfim, este assunto está longe de ser esgotado, por isso precisamos FALAR SOBRE ISSO, não só no mês de setembro, mas durante o ano todo.
 
Cláudia Regina Parra
Mestre em Educação, docente no curso de Psicologia da Faculdade Unifadra, psicóloga clínica, especialista em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental.


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